terça-feira, agosto 28, 2012

Skydome Cup: A Taça Que Veio Do Frio (Parte I)


Para surgir um jogo em que o Javi García não mereça cartão são precisos mais de 6.000 minutos.
Para aparecer um golo de Wolfswinkel esperamos cerca de 900 minutos.
Para que o Vítor Pereira seja assobiado são necessários 5 minutos.
E para que o Nélson Oliveira fosse considerado um grande jogador demorou apenas 0,2 minutos.
Mas para contar uma boa história são precisos 90 minutos.

90 minutos – a rubrica da Cromos da Bola, SAD, que analisa os factos marcantes da bola lusa. Sem censura. Hoje, a reportagem que faltava sobre a mítica Skydome Cup, o único título do futebol sénior português.

Entalada entre a Geração d’Ouro e a Geração Scolari viveu a Geração Skydome. Remetidos a um agoniante anonimato, estes heróis desvalorizados conquistaram o único título do futebol sénior português. Mais ainda: foram a única selecção de futebol sénior europeia a trazer um título de fora do seu continente no século XX. Mas nem por isso mereceram a gratidão do adepto luso. “Fomos escorraçados como ratos do navio da História”, lamenta-se um amargurado Nelo, o capitão desta ínclita geração. “Tinha o mundo todo à minha frente, estava no auge da minha polivalência… e ainda tinha cabelo; um cabelo estranho, mas, caramba!, era cabelo!”, prossegue em jeito de desabafo, com os olhos humedecidos colocados nas suas botas de bicos afiados e gestos bruscos das mãos que entram e saem dos seus jeans Sóveste. Nelo sente a injustiça a ferver nas veias e depois resigna-se, pontapeia desajeitadamente uma pedra no caminho que sai pela linha de fundo da vida e diz como forma de consolação “’sa foda, o Tavares nem calçou, por exemplo, e eu pelo menos levantei a taça”.


A cumplicidade entre Nelo e Tavares tornou-os num ícone pop 
de Portugal dos últimos 50 anos, a par de outras duplas famosas.
Estávamos no início de 1995. Nelo e Tavares davam cartas no embaralhado Benfica do Rei Artur e tudo lhes era permitido. A Lisboa cosmopolita e soalheira de final de século dissimulava perigosas tentações para esta dupla infernal. Para eles, esta cidade tornou-se numa Las Vegas de excessos, a urbe de todos os pecados, a capital de todas as orgias. Nelo recorda-se bem dessa demência descontrolada: “Foi nessa altura que me chutei pela primeira vez”. Pois, o pesadelo das drogas. “Não, foi um movimento peculiar que inventei num treino, que consistia em pontapear-me a mim mesmo quando fingia passar a bola. Toda a gente ficou maluca. E eu deixei-me levar. Levantava-me de manhã já só a pensar no próximo chuto, foram meses só a pensar quando me ia chutar. Gastava todo o dinheiro no bingo e em caneleiras que se partiam ao fim de dois ou três treinos. Já estava todo marcado, até no cu me chutei. E depois, vieram as mulheres. Ah, as mulheres do Benfica... Tinha as mulheres todas que queria: a Leonor Pinhão, aquela desdentada do 3º anel, a gaja do garrafão, a preta mamalhuda que nunca se lavou, enfim, estava no paraíso. Aquilo afectou a minha qualidade de jogo, como é bom de ver”. Eram tempo doidos, de facto. O frenesim das grandes metrópoles sentia-se nos ensejos de multiculturalismo que latejavam. Bonga arribava pelos tops e, não muito depois, Iran Costa fez a sua homenagem a essa louca Lisboa, com um arrojo visual que deixava transparecer o psicadelismo muito intrínseco da época. E, quando o campeonato parou a seguir ao Natal, a FPF aceitou esse convite à internacionalização e um cachet de 200.000 contos (997.596 euros) para se deslocar ao Canadá e fazer duas partidas de futebol indoor contra os anfitriões e a Dinamarca. António Oliveira, o seleccionador, estabeleceu uma quota de três jogadores por clube grande e os eleitos do Benfica foram Nelo, Paulo Madeira e Neno, riscando assim da história Tavares, o eterno compincha de Nelo. “A nossa relação nunca mais foi a mesma a partir daí. Deixámos Lisboa ao fim de pouco tempo, largámos aquela vida maldita e ainda aguentei mais dois anos em comum. Mas já discutíamos por tudo e por nada, senti que perdêramos a chama da paixão e o divórcio foi inevitável”. Inveja? “Talvez. Mas eu perdoo-o; o Tavares também estava muito consumido por aquele ambiente e chegou a sofrer do síndroma-Barroso”, referindo-se a uma célebre, e embaraçosa, indisposição intestinal que acometeu o seu ex-colega em Milão.


A volta de consagração dos heróis de Toronto em tons sépia 
(para parecer mais heróico)
Entre polémicas e surpresas, a Selecção aterrou em Toronto com 13 graus negativos naquele final de Janeiro de 1995. Privada de grandes nomes por força da pressão dos grandes clubes nacionais e europeus, depositou as suas esperanças em nomes menos sonantes, à laia dos “seabrinhas” uns anos antes, mas nem por isso menos virtuosos. Como o então vimaranense Pedro Barbosa. “O que mais me custou foi ter que degustar aqueles muffins gigantes e as saudades do belo croissant”. Ou Sá Pinto. “Estava a começar a expor o meu futebol. E também ainda tinha dentes de vampiro. Mas só tinha aspecto de mau, nem uma bofetada no José Romão era capaz de dar nessa altura sem que me doessem os dedos”. Ou ainda Calado, ainda virgem no que a internacionalizações concernia. Mas Calado optou pelo silêncio, declinando falar connosco. Mais jogadores foram desflorados com a camisola principal das quinas, marca Olympic, como os baixinhos Vado e Caetano.
Caetano, o ratinho atómico de Santo Tirso, lembra com ternura a oportunidade que teve de vestir aquela camisola, enquanto sobe a um banco para se aproximar do nosso gravador. “Aaah, adorei! Aquele design de camisola era fantástico! Aquilo servia-me de camisola, calças, meias, avental e cobertor. A expressão «vestir a camisola» adequou-se-me muito bem; aliás, eu não precisava de vestir mais nada para ficar todo coberto”. Vado, a quem o sucesso voltou as costas, foi outro português deslumbrado. “Foram os melhores momentos da minha vida, que guardo com enorme orgulho. Finalmente, alguém reconhecia o meu valor. O facto de ter sido o primeiro a ser substituído em ambos os jogos quando era preciso acrescentar algo à equipa e de nunca mais ter sido chamado não me beliscou minimamente”. Quem lhe beliscou, entre outras diatribes, foi Jorge Costa. O ex-central sentiu-se incomodado por ter tanta gente estranha à sua volta, como nos revelou num registo desapaixonado. “Pensava que eram emigrantes que tinham vindo para a construção civil cá para o Canadá, ó caralho… Raio de gente esquisita… Foda-se, quem é esta gente, caralho?!? Apeteceu-me mandar-lhes logo uma cotovelada nas trombas. Mas depois o Secretário disse-me, «eh, pá, ó Bicho, tem lá calma com essas cenas, senão ficamos sem gente para o ataque» e eu, ah, o caralho, e a quem a que eu mando fruta, deves pensar que vou ficar aqui ao frio sem mandar pau a ninguém, e ele «ah e tal, tens de te controlar» e eu, pois é, ó Secretas, e tu também vais ficar estes dias todos sem bater umas punhetas lá no quarto, queres ver? E ele «eh pá, não ‘tamos a falar das mesmas cenas», e eu, não ‘tamos o caralho, qu’esta merda também é uma necessidade básica para mim, e ele lá se calou e eu mandei um calduço no Caetano, ou no Vado, sei lá, que o virou ao contrário e fez com que ele fosse dar com as trombas nas costas do Paulo Alves e depois o Paulo Alves ficou com aquele nariz todo saído para a frente desde essa altura. Mas ficámos todos amigos no final da competição e nunca mais lhes bati. Pelo menos, com muita força”.


Eis uma amostra dos estágios de Portugal no estrangeiro: 
uma verdadeira escola de virtudes.
O local dos jogos foi a moderna Skydome, que emprestou o seu nome à competição, um novel ex-libris – ou mamarracho, consoante a perspectiva – do Ontário. E otários não foram os jogadores. Segundo o que os próprios responsáveis federativos confidenciaram, aconteceram episódios “caricatos”, quiçá roçando o rocambolesco, que é um adjectivo normalmente aplicável aos portugueses quando vão para longe da pátria em grandes grupos, vide Saltillo e Coreia-Japão. Alfredo, o guarda-redes que cantava menos entre os eleitos para defender os postes, levantou a ponta do véu. “Eheheheh… o que eu curti!… Meu, o que eu curtiiiiiiiiiii… bem, aquela cena do tipo que vai assim com a tipa que… eiiiich!, meu, eheheheheh!, meu, só visto, ‘tás a ver? Bem, e aquela do outro que caiu em cheio com o queixo em cima da cena que o outro meteu a fritar no quarto da… ena pá! Ganda cena, meu! Mas não quero dizer mais nada… podia contar aquela em que nós fomos atrás dos outros que iam com a coisa de fora a abanar pelo meio do coiso até aparecer o fulano com o sicrano e disse aquilo do sócio do gajo que até era cunhado do tal… mas não quero lançar suspeitas à toa. Só sei que curti com’ó caraças! Perguntem ao Tulipa”. Mas Tulipa não adiantou muito. “Quem? Eu? Desminto categoricamente. Eu estive lá? Duvido. Eu fui campeão de juniores em Lisboa, isso sim”… Tulipa esteve por lá, sim. Discreto e atordoado pela convocatória, mas presente, ele que andava naquela altura entre o Belenenses e o Salgueiros a espreitar um arranque de carreira que nunca se concretizou verdadeiramente, pese embora os 20 minutos de competição na Skydome. Ainda assim, melhor que Barroso, o lançador de torpedos bracarense, que entrou a um minuto do fim do primeiro jogo para inverter a tendência. “O mister lançou-me e deu-me ordens muito concretas: é para ir lá para o meio e não fazer rigorosamente nada, para não sair merda. Ele já me conhecia bem e sabia que eu era propenso a fazer merda. Se houvesse um livre, então eu mandaria o balázio do costume. Mas não houve”. E assim, a marca de Barroso nesta competição foi completamente ofuscada. “Mas não me arrependo de nada e hoje julgo que a minha vida é muito melhor depois da Skydome Cup. A Skydome foi o Imodium Rápido que eu nunca tive”, assume, sem remorsos.

Pois é, a Skydome. Custo de construção: 625 milhões de dólares canadianos. Inaugurada em 1989, albergou jogos de futebol canadiano, beisebol e até de basquetebol a partir desse ano de 1995. Foi a primeira arena da América do Norte a possuir um tecto completamente retráctil e funcional. Dela disse o presidente da entidade gestora do recinto aquando da inauguração: “The name has a sense of the infinite and that's what this is all about”. O conceito a reter é o infinito. E, nem de propósito, foi aqui que as hostes lusas se lançaram para a imensidão da eternidade, para os braços meigos da glória perene.

quinta-feira, agosto 23, 2012

Gimme a "C"!!!

Accioly é um jogador brasileiro que joga no Santa _lara. 
Accioly _ome_ou no Esporte _lube da Bahia, e _hegou à Europa pre_isamente por intermédio do _lube a_oriano. 
Accioly joga a defesa-_entral e é um dos esteios da forma_ao mi_aelense. 
_om 31 anos de idade, Accioly _ontinua a pro_urar a letra "C". 

Pede-se en_are_idamente a quem _onhe_er o seu paradeiro, que a entregue na Rua _omandante Jaime Sousa, nº 21, Ponta Delgada. 

Accioly, o defesa-_entral, a_redita piamente que tudo o que o separa de uma _arreira históri_a no futebol luso é pre_isamente esta _urva _onsoante. 

Julgando pela equa_ão anexa, é difí_il _ontrariar essa sua expe_tativa. 



Os votos da equipa _romos da Bola, SAD são de esperan_a e boa fortuna para que Accioly en_ontre a letra que o levará a atingir a _alva eleva_ão a futebolista de ex_ep_ão, pleno de _riatividade, _arisma e _apa_idade de lideran_a.

sexta-feira, agosto 17, 2012

Pão Que O Diabo Amazou


Diariamente, milhentas cartas e incontáveis e-mails atulham as nossas caixas de correio. São muitos os pedidos, como “já é tempo de ter o Caio Júnior por aqui!”, “exijo uma recontagem das sílabas do Panandetiguiri!” ou “façam amor com as nossas esculturais esposas, por favor!” (este último pedido geralmente acompanhado por um vídeo sugestivo), mas há um pedido em particular que sobressai:

- “Mestres da cromicidade, quem foi o Mazo?”

Pois bem. A confusão é compreensível e Mazo um nome dos mais enigmáticos do futebol português da década de 90. Se procurarmos por “Mazo” no Google Images, o que nos poderá surgir é isto:

Temos aqui o pontapé de saída. Mazo era um centrocampista cuja técnica subtil se assemelhava a um rudimentar martelo de madeira. Mas vós quereis mais que uma simples metáfora, desejais tocar no âmago da questão como Luisões esbaforidos em direcção ao árbitro. Procurando um pouco mais, talvez vos depareis com este simpático senhor:

Pelo aspecto, até podia ser o Mazo que buscáveis. Mas não, este é somente um homónimo bielorrusso do Mazo que vós procurais. Um Mazo filarmónico, um pedagogo transcontinental, um bigode em si bemol. Estamos perto. O Mazo que pretendeis é este, senhores:

Oficialmente, Mazo responde pelo nome de Josemar Araújo Santos e é o tipo da esquerda; pelo sim, pelo não, também colocámos o Danny Trejo, pois podia subsistir a ideia de que o Danny é a versão envelhecida do vigoroso Mazo dos tempos áureos do Estrela da Amadora na Divisão-mor do nosso estimado campeonato.
Tempos áureos… e também tempos geriátricos.

Mazo era conhecido como o pistoleiro de Timbaúba, algures entre Camutanga e Macaparana, lá no Planalto da Borborema, em Pernambuco; Timbaúba, a terra de todos os sonhos, uma Sirinhaém em ponto maior, porém não tão grande quanto Jaboatão dos Guararapes. Ainda jovem, nem com 25 Outonos cumpridos, rubricou em 1994/95 a sua segunda e última época na terra outrora conhecida como Porcalhota (é verdade, até veio n´”Os Maias” e tudo – consultem os vossos Apontamentos Europa-América), completando assim uma torrente de toponímias esquisitas que lhe adocicaram o currículo.
Um benjamim, portanto. Naquele plantel, tal como num certo país atlântico nos dias de hoje, isso era presságio de desgraça. Atente-se nalguns outros bebés daquele plantel: Calado (palavras para quê?); Gil Gomes (é verdade, esse mesmo); João Peixe (primo do Emílio e que representou mais clubes do que aqueles que humanamente conseguiríamos reproduzir num único post); Tico-Tico (um moçambicano que prometia fazer cócegas à grandeza de Eusébio e que, estranhamente, nem sequer ficou para a história pelo inusitado do seu nome); Christian (teve de fugir dali enquanto era tempo mas ainda demorou alguns anos a recuperar do choque) e Paulo Ferreira (provavelmente, o extremo mais anafado de toda a história).
Decididamente, aquele clube não era para novos. A menos que se chamassem Rui Neves. Porque se se chamassem Birame, o mais certo era acabarem a vender artesanato senegalês na feira.
Aquele era o clube de Hubart (o Chilavert à moda da Bélgica), de Rebelo (o eterno estrelista que ainda hoje bateu à porta do Estádio José Gomes a pedir para treinar), do Senhor Bigode (leia-se Agatão) e também de Fonseca, Paulinho, Edmundo, Quim Machado, Fernando e Rui Águas – nenhum deles com menos de 28 anos e alguns com mais de 35 (o Rebelo já devia ir nos 55). Era um plantel com muita tracção defensiva e onde Mazo sentiu inesperadas dificuldades em assentar todo o seu reportório de maus tratos no esférico, certamente inibido pelo fulgor de um Taira, que fazia olhinhos marotos à Selecção, de um Koncalevic que possuía um nome balcânico que abafava aos pontos a singeleza da sua alcunha, ou de um superlativo Mário Jorge, que conseguiu a proeza de assinar pelo Sporting e Benfica sem nunca jogar nenhuma partida pelos dois.

Era o destino a empurrar Mazo para fora da ribalta e Mazo não foi contra o destino. Abraçou-o e, mal saiu da Amadora, desatou a correr clubes que ficassem, de preferência, na confluência dos distritos de Santarém e Portalegre – que, como todos sabemos, sempre produziram futebol condizente com o gabarito de Mazo. Por ali se deixou ficar como treinador. Sucumbiu à voragem dos tempos e disse adeus ao bigode. Agora, pode festejar os títulos distritais que quiser, mas, sem bigode, já não tem graça. O Danny Trejo é que a sabe toda.
Quanto ao Estrela, todos desejamos a sua recuperação. Até mesmo um conhecido galã da nossa praça:

domingo, agosto 12, 2012

Filhote, uma vida cheia de sorte.. e já agora Robson

O Cromos da Bola obteve uma conversa exclusiva com um jogador de futebol.
Tivemos acesso privilegiado no início da carreira de um jogador, pelo que vamos agora partilhar com toda a nossa audiência.

" - Meu filho, meu bebé, desejo-.te uma vida cheia de sorte - diz a mãe.
 - Não, mãe. A vida é trabalho e cada um faz o seu caminho - diz o filho.
 - Sim, filho mas já que te estou a lançar para uma vida, quero que sejas feliz. Que tenhas muito boa sorte no teu futuro.
 - Obrigado mamãe e papai, Deus estará sempre connosco e comigo no caminho. É preciso é levantar a cabeça quando as coisas nao correrem bem.
 - Pois filho, e com a graça de Deus vai ser feliz. Nem que seja aqui em Guanabi.
 - Guanabi, mamãe'? Eu gostava de jogar no União Timbó ou mesmo no Paduano!
 - Quê filho? Paduano?
 - Si, graças a Deus será um bom clube para mim! Lá poderei ter sorte.
 - Mas meu filho, a sorte estará sempre contigo. Mas tens que jogar no Guanambi! quem sabe isso te dará altos voos e jogar na Europa, que é sempre importante.
 - Sim, mamãe. Eu prometo que vou lutar para jogar na Europa. Nem que seja num clube de uma freguesia do Porto, que joga na distrital! Está na Hora! acho que ó nome desse clube é Senhora da Hora.
 -  Muito bem, filhote .Denoto aí ambição e crença e fé e crença e fé , e acreditar.. e fé..e graças a Deus... olha sabes que mais filho Robson?  Robson, Boa Sorte Filho!!"

Pedimos desculpa pela má qualidade de imagem e do som que transmitimos, mas em Guanabim não é fácil!

Bem vindo Robson Boa Sorte Filho.
http://www.zerozero.pt/jogador.php?id=220109&epoca_id=0&search=1



terça-feira, agosto 07, 2012

Vitorino, o Emigrante



"vai devagar, emigrante"
Verão de 2007. 

Brota um dia de sol abrasador na verde Freamunde, e o jovem Vitorino vai ao café do costume ter com os amigos do costume, montado na Casal-Boss do costume.

Um dia normal para o moço, que colocara cuidadosamente o capacete amarelo do Pai na cabeça, de forma a não atrapalhar a acre sensação de paz transmitida pelo SG Ventil pendurado no canto da boca. 

Lá vai Vitorino, filho da terra, estimado por todos, transmitindo carradas de monóxido de carbono para a atmosfera. 


Lá vai Vitorino, inimigo público número um da camada de ozono, cumprimentando todos à sua passagem. 

O Acácio da frutaria, que acena carinhosamente. 
O Sr. Fialho da drogaria, que lhe cospe impropérios derivados da falta de paciência para com o infernal chinfrim vomitado pelo escape da motorizada. 
O Macedo da sala de chuto, que lhe endereça um salutar e bonacheirão "Tudo de bom!" de bochecha rosada. 

Vitorino chega ao café, coloca cuidadosamente uma viscosa bisga no canto do passeio e estaciona a Casal-Boss em cima dos caixotes de fruta. 
"É mesmo à Vitorino", exclamam sorridentes (e babados) os convivas que vegetam à porta do estabelecimento, sinceros admiradores da técnica apurada na arte de endereçar uma bela e consistente bisga enquanto se mantém simultâneamente um SG Ventil repousando nos lábios. 

Vitorino, o orgulho de Freamunde, é abraçado por todos e cumprimentado com os mais doces impropérios (e simpáticas referências à idoneidade de sua Mãe), sinal do mais belo e sincero male-bonding. 

Nisto, o Hino da Alegria enche o estabelecimento - em versão midi. 

É o alcatel do Vitorino, que toca impaciente. O jovem saca da pequena bolsinha preta CK pendurada ao cinto e leva o aparelho à boca. 
Segue-se um alegre porém digno "Atão, caralho?" 

Mas cedo se dissolve o ar casual de Vitorino. 
O sobrolho franze-se em tom de atenção redobrada. 
Adopta um semblante sério, profissional. 

Algo se passa. 

Os convivas em seu redor ignoram-no, viram a sua atenção para o novo videoclip da Ana Malhoa, que agracia os ecrãs da TV do café, obra e graça do Made in Portugal.
Vitorino retorque à chamada telefónica em staccato de tom afirmativo e expectante. 
- "tá bem, caralho", são as últimas palavras docemente proferidas pelo jovem antes de voltar a guardar o telemóvel na sua bolsinha de cinto Louis Vuitton. 

Sem expressão na ruborizada face, Vitorino caminha em direcção ao inerte grupo ainda fixado nos atributos da filha de José Malhoa. 
- "Bou pró caralho mais belho", afirma com a costumeira suplesse. 

O inesperado anúncio cai em saco roto, dado o fascínio do bando com as saltitantes insígnias da jovem artista de variedades na TV. 

- "Bou pró caralho mais belho!!!!!!", vocifera novamente Vitorino na tentativa de chamar a atenção da horde. 

Faz-se silêncio. Aliás, a TV estivera em mute todo este tempo. 

- "Para onde, caralho?", indaga expectante o mais anafadito do grupo, um senhor de meia idade de t-shirt branca com a inscrição "Freamunde Quase Capital do Móvel". 

- "Sei lá. O gajo disse Roma. Onde é essa merda, caralho?", questiona gentilmente o jovem, ainda semi-abananado com a notícia. 


"Io sono spettacolare"
Instala-se a confusão. Cada cabeça, sua sentença. 

Porém, a conclusão é quase unânime, e solenemente transmitida pelo Zé Coxo, jovem trintão de boné JCA ofertado pelo Zé Mota no final de um inesquecível Paços 1 - Ovarense 1 em 2004. 
- "Oube lá, Bitorino...essa merda é no estrángeiro." 

A notícia atinge o mancebo como uma carícia matrimonial do Paco Bandeira: 
- "Eu? No estrángeiro? Mas a única bez que fui ao estrángeiro foi quando fui jogar com o Freamunde à Lixa", asseverou um Vitorino confuso com a geografia nacional. 

- "Ouvi dizer que no estrángeiro as pessoas têm 3 metros de altura e cabelo verde", afirmou cauteloso o senhor anafado. 

Perante o ar cada vez mais assustado de Vitorino, o tipo mais magrinho do grupo - conhecido por ser o habitante de Freamunde com a maior colecção de postais do Bozinoski de férias - pôs água na fervura. Eis Quim Cowboy, boçal e roufenho: 
- "Caro amigo, excelentíssimo colega de viagem na sinuosa auto-pista da vida. Peço mil perdões por interromper esta salutar tertúlia de cariz geográfico, porém penso ter informações relativamente ao paradeiro de tal metrópole. Assevero-o de forma absolutamente humilde e despretensiosa, dado que a máxima socrática "só sei que nada sei" se mantém curiosamente actual. Todavia, creio que vos referis à Pátria de Vittorio Emanuelle II." 

O silêncio torna-se ensurdecedor, apenas quebrado pelos súbitos urros do confuso bando. Zé Coxo enrola-se em posição fetal, agarrado à cabeça. Toni Viagra esmaga cadeiras na parede, qual incrível Hulk tomado de fúria. Dois dos restante convivas berram desesperados, enquanto estilhaçam garrafas de RC Cola na testa. 

Contudo, Vitorino fita Quim Cowboy de olhos arregalados e tom sereno, exortando-o afectuosamente a desenvolver o tema abordado: 
- "Oube lá, queres levar um testo na fronha? Fala português, caralho." 

Quim Cowboy ajeita nervoso o chouriço que guarda no bolso da camisa Fabio Lucci, beija sofregamente o cromo de Pesaresi que traz sempre consigo na carteira, e solta um ansioso "Itália". 

- "Ô?", indaga sagazmente Vitorino. "A cena das pizzas?" 

- "Certamente, camarada. A Itália, oficialmente denomeada República Italiana, é uma república parlamentar unitária localizada no centro-sul da Europa. Ao norte, faz fronteira com FrançaSuíçaÁustria e Eslovénia ao longo dos Alpes. Ao sul.." 

A grosseira exposição de Quim Cowboy é felizmente interrompida por uma garrafa de Snappy que encontra ruidosamente a parte de trás do seu crâneo. 

Vitorino dirige-se calmamente para a saída, enrolando um pensativo elástico entre os dedos, de olhar fixo no chão. A sua vida está prestes a mudar. 
O jovem cantarola entredentes as primeiras estrofes da melodia "Sonhos de Menino", de Tony Carreira. 

De semblante sonhador, ergue suavemente o queixo e balbucia com elegância: 
"Sou um emigrante, caralho." 

Cinco Verões volvidos, Vitorino está de retorno à casa de partida. 
Roma ficou para trás, e os sonhos adiados. Na caçadeira futebolística carrega agora as memórias de tiros disparados na prestigiosa Liga dos Campeões da UEFA, carrinhos mal temporizados em San Siro, passes transviados no Delle Alpi e um olhar crítico in loco à crise da dívida grega. 
Pelo meio, um "buenos dias Matosinhos" com os "aviões lá 'trás" e a indignidade do clube detentor de seu passe ter pago 270,000 € para se livrar dele por uma época. 

Verão de 2012. 

Brota um dia de sol abrasador na verde Freamunde, e o jovem Vitorino vai ao café do costume ter com os amigos do costume, montado na Casal-Boss do costume. 
Um dia normal para o moço, que coloca cuidadosamente o capacete amarelo do Pai na cabeça, de forma a não atrapalhar a acre sensação de paz transmitida pelo SG Ventil pendurado no canto da boca, e sussurra sorridente: 

"Estou de volta, caralho." 
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